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BENTO DESCE DA CRUZ

Célio Furtado | 06:23 | 0 Comentários

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Artigo de Roberto Cavalcanti

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. - Eclesiastes 3
O tempo de Bento XVI, segundo ele próprio anunciou (para espanto do mundo inteiro), terminou.
Como era de se esperar, a renúncia provocou uma onda de especulações – um fenômeno que os elevados portões do Vaticano, erguidos por dogmas e mitos, sempre ajudaram a suscitar ao longo de sua história milenar.
Verdade que não é cena comum ver um papa renunciar. Como dizem lá em Roma, “da cruz não se desce”.
Bento desceu. E certamente dará munição para longos e intrincados enredos conspiratórios.
Os Dan Browns de plantão, porém, que me desculpem, mas estão se recusando a enxergar a inequívoca verdade embutida, do começo ao fim, no discurso de despedida de Bento: há que ter fôlego para conduzir a “barca de São Pedro”.

Barca que chega ao século 21 cercada por iates de última geração. E timoneiros com fôlego físico e financeiro para arrebatar o rebanho católico.

Somente no Brasil, a população católica sofreu encolhimento da ordem de 12,2% na última década, de acordo com o Censo 2010 do IBGE.

Pelo menos 1,7 milhões de “ovelhas” pularam o cercado apostólico romano para cair nas graças das igrejas evangélicas – congregações movidas por máquinas azeitadas e “tentáculos” de alcance internacional.

Enquanto a concorrência se movimenta célere, a maior autoridade da Igreja Católica não tinha mais saúde sequer para chegar, sozinha, ao altar das celebrações. Muitos fiéis testemunharam nos últimos anos Bento ser conduzido por plataformas móveis.

Exatamente como ocorria com seu antecessor.

Ao contrário de Bento, João Paulo II jamais desceu da cruz. Idoso, doente, portador de mal de Parkinson, Karol Wojtyla se submeteu ao martírio exigido pelo posto até o fim.

Por que o cardeal Ratzinger tomou rumo diferente?

Porque são papas diferentes, com traçados históricos distintos.

O carismático João Paulo II sentou no trono máximo do Vaticano aos 65 anos, jovem para os padrões e com saúde para construir um dos papados mais influentes da história da Igreja.

Percorreu o mundo, osculando e abençoando os solos dos seis continentes e arrebatando corações e mentes. Quando não tinha mais saúde para se ajoelhar, já era um homem santificado.

Diferente dele, Ratzinger foi eleito papa aos 78 anos, se tornando o pontífice mais velho a assumir o Vaticano nos últimos 700 anos.

Jamais ocupou, nos corações dos fieis, a vacância de afeto deixada por João Paulo II. E, ao que parece, sequer tentou. Pois já chegou sem vigor para tomar posse da herança popular de Wojtyla.

Ao se desprender, Bento abre mão de um poder incalculável, passa por cima da vaidade e surpreende pelo gesto de humildade.

Também sinaliza ao mundo – como fez seu antecessor através de sofrimento e dor - o imensurável peso da cruz.

Transcrito do Portal Correio

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