Coluna Alcides Martins
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DESABAFO DE CABÔCO (ONILDO BARBOSA)
Por: Alcides Martins.
Ah! Dr. Cuma me dói
Arrescordá meu passado
Meu sertão de chão rachado
Pela seca arrinitente
Fica tudo diferente
No tempo da sequidão
É fôia seca no chão
Casa véia abandonada
Vaca morrendo atolada
Na lama do cacimbão
Num se avista nem anum!
Dento do bosque isquisito,
Cabra, carnero, cabrito,
Morreno de um em um,
Menino magro doente,
E a mãe impaciente
Sem saber o que fazer,
E o pobre catingueiro,
Nos assêro do terrero,
Pedindo a DEUS pra chover.
Menina quage criança
Com o peito cheio de mágua,
Vai ver se arruma água
Cum trez légua de distança
A muié magra coitada,
Guarda as panela imborcada,
Num jirau véi da cosinha,
Os mulequim com emborná,
Correno atrás dum preá
Mode comer com farinha.
O sertanejo cabôco
Se embrenha nos tabulêro,
Intrupicano nos toco,
Pra ver se sarva um carnêro,
Que tá morreno de fome
Pois faz um mês que num come
Nem mandacaru tostado;
Só se avista flagelo,
E a morte com seu cutelo,
Matando gente adoidado.
Domingo,dia de fêra,
É o maior sufrimento
O pobre pega uma cela,
Põe no lombo do jumento,
E sai caminhando à trote,
Passa riacho, serrote,
Tristonho, desanimado,
Vai falar com o budegueiro
Prá ver se sem ter dinheiro
Faz outra fêra fiado.
Em casa a criança chora
Chega faz éco na serra
Gato mia, cabra berra,
A situação piora!!
Na rua o pobre se vinga
Enchendo a cara de pinga
Esquece o que tá passano,,
E a mãe em casa coitada
Consolano a fiarada
O dia inteiro esperano.
Quando ela perde a fé
Vai na casa da visinha
Pede um pouquim da farinha
Uma cuié de café
Cuma boa mãe qui é!!,
Acomoda a fiarada
Sem drumir agoniada,
Vai pra porta ver a lua
Chega o marido da rua
Bêbo, com fome e sem nada.
Toda caatinga se cala
Parece qui nem tem gente
E a cauã impaciente
Cantano fora de hora
As porta das casa véia
O vento abrino e fechano
Num tem mais ninguém morano
Qui a seca butô prá fora.
O gado mago morreno
Vítima da seca assassina
Nem um galo de campina
Canta prá nós escuitar
Só a coruja agourenta
Dá uns gemido na gruta
Toda vez que a gente escuta
Dá vontade de chorá.
(...)
E os Dr. da política??
Nem óia pro cariri
Só fala de C.P.I.
Nesses tá de mensalão,
Chega na televisão
Mentindo de cara liza
Parece qui nem precisa
Dos Matutim do sertão.
Será que esses deputado
Num vê qui foi nós qui deu,
Qui votou, qui iscreveu
No dia da inleição?
Com uns papezim na mão
Butemo lá o seu nome
E eles nem vê qui a fome
Ta devorano o SERTÃO.
Num vê mãe sentindo dor
Botar força pra parir,
E o fí sem querer sair
Proque num tem mais sustança
Na agonia da fome
Nasce o fí de quarquer jeito
E a mãe sem leite no peito
Pra sustentar a criança.
É, Doutô, Você num sabe!!
Mas é bastante doído
Ver um animá caído
Passando a língua no chão
Quem já serviu de transporte
E atendia pelo nome
Dando gemido de fome
Sem um talo de ração.
É por isso que eu digo:
As vezes me dá vontade
De fazer uma mardade
Com meu tito de inleitor
Picá-lo bem miudim
Sacodir numa coivara
Criar veigonha na cara
E num votar mais nos doutor.
(...)
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