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Coluna Alcides Martins

Cuité Pb online | 12:07 | 0 Comentários

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UM CIDADÃO BRASILEIRO
Por Alcides Martins



Pedro era um homem trabalhador e honesto. Homem de paz e cumpridor dos seus deveres. Casado, pai de cinco filhos, morava no sítio Passagem. Mesmo sem muito estudo, Pedro sabia ler e escrever. Na sua pequena propriedade (apenas cinco hectares), ela plantava e criava um touro (para o trabalho) e duas vaquinhas leiteiras para o sustento da família. No terreiro, algumas galinhas que Rosa (sua esposa) cuidava com carinho. Para se locomover do sítio até a cidade Pedro possuía uma motocicleta (não muito nova, mas bem conservada). Era o seu cavalinho de estimação. Com ela Pedro transportava o que produzia e fazia a sua “feira” quando ia à cidade.


Em uma dessas viagens ele foi abordado em uma blitz policial e teve a sua motocicleta apreendida. Pedro ainda implorou, pediu com lágrimas nos olhos que o deixassem ir embora, todavia o que conseguiu foi ter a sua “feirinha” jogada no chão com descaso. Chorando, sentado no chão, viu seu único meio de transporte ser levado para o pátio do Detran.

Pedro procurou as autoridades competentes alegando ser um cidadão de bem, pai de família, trabalhador e com endereço fixo. Mas nada adiantou. E o pior. Alegaram que ele só poderia ser um cidadão depois que legalizasse a sua motocicleta.
Cabisbaixo, com o coração em pedaços, não só pela perda de sua moto, mas também (e principalmente) por saber que não era um cidadão de bem, pela simples falta de um papel cheio de números (não sabia ele que nós somos escravos dos números), Pedro volta para casa sem saber o que fazer. Como recuperar a sua motocicleta? Onde Conseguir o dinheiro?

Ele resolve (a contragosto) vender uma vaca e o touro para que a moto fosse legalizada. Depois de toda documentação pronta, feliz da vida por ter o seu bem recuperado, Pedro sofre mais decepção. Só poderia trafegar se tirasse a Carteira de Habilitação. E agora, mais despesas, mais constrangimentos. A última vaquinha é vendida.

Vêm os testes e as reprovações. E a cada “reteste”(parece até uma piada, mas esses “retestes” são pagos) vão-se embora as galinhas, os perus...

Sem mais nada para vender, sem forças para lutar, Pedro é dispensado como “inapto” (que triste e dura palavra).

Pedro volta para o seu sítio, olha para os filhos, abraça a esposa, senta-se no batente da casa, pende a cabeça e morre. Morre na incerteza se era ou não um Cidadão Brasileiro.

(Alcides Martins de Medeiros. Cuité, 20 de abril de 2011)


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