O professor Pardal de Barra de Santa Rosa

O garoto estuda no Colégio Estadual de Sossego à noite. Faz o nono ano do ensino fundamental. É ativo e está sempre na oficina paterna ajudando e observando o que o pai faz.
Como sua moradia está encravada no Curimatau e alimentar o gado nas secas e estiagens é tarefa para os fortes e para os que também usam a cabeça, como além da oficina mecânica também criam um gadinho, Amauri e Ajeilson, pai e filho, tinham um sonho: ter uma forrageira. Amauri esperava o momento de adquirir tal implemento agrícola e Ajeilson partiu para criar sua máquina forrageira.
Buscou no monturo (lugar onde se põe o lixo das casas) os componentes de sua forrageira. De uma velha calculadora de supermercado que imprime a conta no rolo de papel em forma de bobina, tirou o motor elétrico; de uma lata de óleo comestível, usou o flandres para fazer a carcaça da máquina; a polia de seu aparelho de picar capim, tirou-a de um gravador antigo; as navalhas foram retirada de apontadores de lápis de madeira e o rotor que contém as lâminas foi feito de uma tampa de garrafa pet; a base de sustentação da máquina e motor é feita restos de tábuas e a fonte de energia que alimenta o motor é também de gravador imprestável.
No final estava o invento feito e funcionando. Uma mini-forrageira que tem o tamanho, incluindo base, motor e máquina forrageira de 11 cm x 25 cm. Cabe numa mão de uma pessoa. Mas, funciona! Corta talos de capim e até de vassourinha (planta que se usa para varrer o terreiro no interior). O sonho do menino pobre de ter uma forrageira que minorasse o seu dia-a-dia no semiárido materializou-se no seu mini invento.
Perguntei-lhe se quer continuar os estudos e em que pretendia se formar. “Quero continuar estudando, mas não sei o que vou ser: engenheiro, médico ou professor.” – respondeu-me Ageilson.
No Nordeste e por este Brasil afora existe muitos Ageilson à espera de oportunidades, mas nosso país é injusto com essas pessoas. Os países que cresceram cientifico e tecnologicamente cuidaram melhor de seus filhos inteligentes. Os Estados Unidos aproveitando os tempos de guerra “roubaram” pessoas de QIs (quocientes de Inteligências) alto para trabalhar sobre sua guarda e desenvolver grandes projetos e, grande parte de seu crescimento tecnológico, advém dessas pessoas. No Brasil não há nenhum esboço ou vontade de tratar melhor seus filhos inteligentes ou com aptidão para tarefas especiais, como Adjelson.
A sugestão é que as escolas fundamentais da região do Curimatau e Seridó Oriental, promovam dias ou semanas de Ciências e Tecnologias e Maratonas de Português e Matemáticas com distribuição de troféus para os trabalhos primeiros colocados. Nesses eventos de baixo custo os alunos teriam a oportunidade de desenvolver seus intelectos e de utilizar peças de sucatas eletrônicas, de brinquedos quebrados, pilhas, mini-motores elétricos e passavam a fabricar seus inventos ou copiar na forma de miniaturas bens móveis existentes no dia-a-dia do homem. Assim, pode-se alimentar o gosto pela mecânica, eletricidade e ciência.
Dessa forma poderia muito bem reaproveitar o lixo eletrônico e mecânico que é jogado na natureza no aprendizado do alunado ávido por conhecimento. Reaproveitando esse lixo, se faz a verdadeira preservação do meio ambiente.
Texto e foto Clodoaldo Melo
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